Meg tinha
essa alma livre, plenamente presa num corpo adulto cheio de obrigações. Era um
grito entalado que sufocava suas vias respiratórias; era um choro que não lhe
escorria a face o que a deixava sem vida, com sua agonizante tosse nervosa; era a vontade de se
isolar que se disfarçava no constante sorriso em seu rosto: um sorriso que
demonstrava felicidade, mas que dizia desespero. Ela sempre o teve como
disfarce. Se desconfiassem dela, aquele sorriso aberto dissiparia qualquer
dúvida que recaísse sobre sua cínica alegria. E como era cínica! Assim como
palhaços, gente muito alegre convive constantemente com seus cansaços. É
realmente exaustivo tentar ser leve e, ao mesmo tempo, conviver com quem reclame da vida o tempo
inteiro. Uma simples cara fechada na condução matinal já a destruía
rapidamente. E ela não era diferente dos exaustos felizes: por trás da face
alegre, um cansaço que lhe pesava os ombros e
lhe doía as costas.
Essa luta com o mundo, refletida em sua voz rouca,
pois era na garganta que concentrava e tensionava os dissabores. Estava
desistindo de qualquer coisa (quem a olhasse de verdade perceberia a gravidade
estampada em sua pele, com a boca seca, prestes a soltar com força o tal grito
- e provavelmente era disso que a sua alma precisava). Mas, por hoje, bastaria
um abraço e uma palavra (ou várias) de amor; desejava o carinho incessante de
uma noite inteira; queria, mais do que nunca, não se sentir só nas preocupações
e no anseio de poder ser leve, verdadeiramente.
Mas, no fundo, deprimida de
novo, incompreendida de novo, deveria se recompor das poucas lágrimas que já
lhe chegavam ao pescoço, pois o dia seguinte era mais um que lhe tiraria mais
de seu corpo e de sua mente, mais um dia sem fim, desejando as férias que não viriam ou o bilhete
premiado da loteria. Imaginava que um surto repentino sairia dela e que isso
até poderia ser evitado, se a olhassem com atenção ou se tomasse aquele
leksotan guardado na estante. Se não tivesse obrigações no dia seguinte, já o
teria tomado, pensou. E, mais uma vez, sentia-se como se não pudesse tomar
simples decisões sobre si. Não podia tomar o remédio, havia esforços demais para o
amanhã. E, após pensar isso, mais cansaço, mais dor nos ombros (e sem
previsão de massagem!), mais triste se sentia. Havia a sobrecarga de sonhos, de
preocupações, de dores e dessa certa solidão. Queria poder dividir com quem lhe
desse atenção, mas um abraço compreensivo bastaria.
Entretanto, o dia passou e
a vontade de sorrir também. Sentia-se como se estivesse perdendo o talento para ser cínica. Nem que fosse só para si. E ela sonhava com sua alma livre, para respirar o ar puro da
serra e ver a beleza do mar. Sem hora para ir embora. Sem sentir que a vida vai
passar. Sem medo de não ter a chance de desfrutar o que conquistou, ou voltar a
dançar e cantar naquele luau com os amigos,
em volta do fogo. Quando iria poder cantar novamente, com sua voz
inteira? Ela pensava e doía o coração... E o som preso de sua voz invadia o
desejo de se sentir linda de novo, com a alma livre, respirando pureza. E talvez fosse melhor não pedir pela atenção
de que precisava desesperadamente, ou talvez estivesse cansada, mais uma vez,
de tanto esforço desperdiçado. Melhor seria entregar-se ao merecido descanso
pelo qual implorava seu corpo. E descansar do cansaço, por mais redundante,
repetitivo e enfadonho que seja isto: entregar-se ao que lhe quer, o sono
arrebatador. Bem, melhor que não ser desejada por coisa alguma...
Pelo menos
assim poderia ter sonhos cintilantes de princesa, com vestidos de mangas
bufantes e maquiagem impecável; e poderia cantar no tom mais agudo que
houvesse, enquanto passarinhos tocariam sua pele, com a felicidade estampada no
rosto. E talvez, sorrindo, deixasse seu corpo falecer devido ao amor proibido,
que a entorpeceria de paixão e desejo ardentes, até que pouco ar lhe sobraria,
quando, enfraquecida, com seu último suspiro, escorrer-lhe-ia a última gota do
vinho tinto preferido, suave como a rosa vermelha em suas mãos, cujos espinhos
furar-lhe-iam a pele, enquanto, finalmente, tentaria gritar, mas, sem forças ou
sangue, apenas sussurraria: "EU AMEI..." e ela, inteira, se
eternizaria num surpreendente meio sorriso... Para sempre.
Tatiana Tchu
Tatiana Tchu
O que dizer... Dizer sem sentir ou sentir sem dizer? "Tudo certo quanto dois e dois são CINCO".
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