Meg olha pela janela e vê as nuvens cinzentas, anunciando a
chuva rala que começa a cair. Aquele era um dia triste, seus olhos deixavam
descer algumas lágrimas compridas que se espatifavam na madeira da janelinha
azul. Quase dez longos anos se passaram desde
que se viu sozinha ali, com aquele estranho a olhando na chuva. Quase dez anos
de escolhas, palavras, sonhos e amores errados. E aquele estranho, que se
tornara tão íntimo e tão seu, estava indo embora de novo, num smoking preto de
casamento. Para ela, aquele era um smoking preto de funeral...
Ela o deixou ir, ou, sem querer, o mandara embora? Tinha
dúvidas. Era tão jovem quando agiu como uma tola! Não sabia, na ocasião, o
quanto seriam definitivos os resultados de seus impulsos infantis. E lamentava,
olhando da janela o Riacho de Poème, esperando que, por milagre, ele aparecesse
do outro lado da margem, dando a ela a chance de não ter medo e de, finalmente,
vadear para o outro lado, agarrado-se em seu terno azul marinho,
implorando para que não fosse embora com uma mulher que não fosse ela.
Meg sai da casa e, lentamente, com seu vestido preto e poído
de luto, caminha lentamente até a margem do Riacho, deixando que suas lágrimas
caíssem na grama e fertilizassem a terra, onde cresceriam flores roxas de arrependimento.
Senta-se à margem, sentindo a dor mais profunda que jamais conhecera. Com uma
mão, segurava a margarida seca, que havia buscado em seu livro velho de
poesias; com a outra mão, ora massageava o peito que doía, ora esfregava os
olhos encharcados, espalhando as lágrimas que se renovavam. Eram movimentos em
vão, pois essa era a dor que a acompanhava desde o primeiro olhar que recebeu
dele. Era tão forte que não soube o que fazer com tanto sentimento, mas, mesmo
optando pelo caminho mais fácil, fugir, ela sabia agora, mais do que nunca, que
escolhera o caminho mais difícil, esperando que ele viesse a ela, como muitos
fizeram. Mas ele era um oceano negro de mistérios. Orgulhoso, como ela também
havia sido.
Meg revivia em sua mente o momento em que o conheceu, quando
ela estava comprometida com outro. Ele, então, lhe disse : "Meg, há outro
homem no meu lugar! ", e ela sabia que era verdade. Ainda assim, perdeu o
tempo para ir embora com ele, para aquela terra de Ipês. Quando finalmente decidiu
ir, ele não a recebera. Seu coração era mágoa e desconfiança. Não
suportaria se sentir como segunda opção. Mas ele não enxergara que sempre foi
ele o amor de Meg. Ela passou muito tempo apenas esperando uma palavra sua. Os
dois foram tensos e impulsivos no amor.
Agora, ela sentia o mesmo que ele sentira: "Há outra no meu
lugar". E sentia com toda a certeza de que o lugar de um era o abraço do
outro, mas eles se perderam na paixão intensa e na falta de paciência tão característica de quem
ama demais.
Os dois encontrariam pessoas para amar e serem amados, até
seriam felizes, mas nunca esqueceriam um do outro, além de manterem certo
contato masoquista, que não conseguiriam evitar.
A chuva caía fina e, quando Meg se deu conta, a margarida em
sua mão havia se espatifado de maneira
irrecuperável, como ela mesma. Ela olha para a ponte e percebe uma cor diferente, uns riscos roxos na
madeira. Corre para perto e vê, escrito na ponte: "Meg, seja feliz...",
ela olha mais embaixo e lá está a assinatura dele: "Bernardo". Meg
sentiu então uma dor ainda mais aguda e pôs-se a chorar copiosamente, com a
cabeça apoiada na madeira da ponte. Suas lágrimas faziam as letras dele
sumirem, como se nunca tivessem sido escritas.
Tatiana Tchu
Tatiana Tchu